segunda-feira, 30 de novembro de 2020

 

                                                              Juvenal


     Os sinos da igreja começavam a tocar a partir das seis horas da manhã e Julio, um dos ajudantes do sacerdote estava encarregado desse trabalho mês e ainda não tinha chegado, o sino teve de ser pilotado por Venâncio o outro coroinha, padre Josep preocupado com o atraso do rapaz, procurava entre os presentes, algum parente que poderia lhe dizer o que aconteceu, mas que naquele domingo não apareceram para desesperar ainda mais o sacerdote. Josep di Trenti estava há oito meses naquela paróquia em substituição ao padre Hermógenes, morto após cair de um cavalo dado por Ventura e quebrar o pescoço já próximo à cidade numa quarta feira chuvosa quando vinha de uma reunião na sede da fazenda de Eurico Ventura, o homem mais rico do lugar. O falecimento foi sentido por todos do patrimônio justo quando Padre Hermógenes foi interceder pelos últimos moradores da Serra do Canário que estavam ali ha mais de cinco mil anos, geração após geração, e que o fazendeiro procurava expulsar para ampliar seus domínios e que paleontólogos da federal de Mato Grosso atestaram, após o exame de um tal de carbono 14 nas peças encontradas num sitio arqueológico na terra anexada já dentro da fazenda do então cooperador Eurico, que não via valor naqueles achados. Na verdade ele pensava que esse povo da ciência era tudo uns bestas, publicar estudos de pedaços de tigelas, pratos, e alguns ossos após o exame de um tal de carbono 14 nas peças encontradas num sitio arqueológico na terra anexada já dentro da fazenda do então cooperador Eurico, que não via valor naqueles achados. Na verdade ele pensava que esse povo da ciência era tudo uns bestas, publicar estudos de pedaços de tigelas, pratos, e alguns ossos após o exame de um tal de carbono 14 nas peças encontradas num sitio arqueológico na terra anexada já dentro da fazenda do então cooperador Eurico, que não via valor naqueles achados. Na verdade ele pensava que esse povo da ciência era tudo uns bestas, publicar estudos de pedaços de tigelas, pratos, e alguns ossos  de animais e gente que morreu há muito tempo. Já não tinha mais o que inventar. Deixou que fizessem escavações, local de canto de suas terras que já era improdutivo, nem o gado chegava perto, terreno pedregoso que nenhum meeiro queria tocar, aquilo era um sossego até o padre dar com a língua nos dentes. Fez o que fez até que os benditos cientistas viessem se instalar em nossa pacata cidade, que não passou de mil almas e quase dobrar o número de habitantes de uma hora para outra. 0s dias entediantes deram lugar ao agito daquele povo esquisito que formavam rodinhas na praça, na venda do seu Nicolau, no boteco do Abílio, no salão paroquial onde até o padre Josep falava naquela língua rápida e esquisita que eu até achava par com a dos índios que foram empurrados para trás da Serra do Canário pelos capangas de Eurico, quando me pediam um favor se enrolavam todos para eu poder entender, porque nem sempre o padre estava por perto para ajudá-los a se comunicar, mas uma coisa eu não posso negar, eram bom de agrado, me davam muita caixinha, às vezes um dinheiro diferente, que eu guardava ou trocava na venda do Nico que nem pensava duas vezes para pegar. Era mais ou menos umas dez horas quando voltei do sitio arqueológico onde tinha necessário uma turma chefiada pelo doutor Ranço Tuba que eu entendia melhorzinho, eu dei um pulinho no Abílio pra tomar uma da boa e quem estava no balcão naquela hora era sua filha Sara, moça bonita e estudiosa que sempre estava com um livro nas mãos, perguntou se eu tinha alguma noticia de Júlio. Disse que tinha visto ele no dia anterior quando voltava pra casa em sua bicicleta e até proseei com ele um pouquinho, mas que não sabia dele não. Fiquei curioso e resolvi pergunte. E ela disse que meia cidade estava procurando ele por tudo quanto era lugar e ninguém sabia onde ele tinha se metido, saiu de manhã para vir pra missa ajudar padre Josep e não tinha aparecido na igreja nem em lugar nenhum e que o padre queria falar comigo quando eu viesse. Pedi uma bala de canela, paguei a cachaça e corri pra paróquia, conversar com o homem de Deus. Padre Josep estava no fundo da igreja cuidando de sua horta, chegando terra no pé de suas plantas e ouvindo os cascos de Cravinho batendo no chão duro, estava de joelho, se formou e tirou o grande chapéu de palha da cabeça, passou o braço na testa para enxugar o suor, me abençoou e foi logo dizendo aquele seu jeito calmo que precisava de um favor meu. E ela disse que meia cidade estava procurando ele por tudo quanto era lugar e ninguém sabia onde ele tinha se metido, saiu de manhã para vir pra missa ajudar padre Josep e não tinha aparecido na igreja nem em lugar nenhum e que o padre queria falar comigo quando eu viesse. Pedi uma bala de canela, paguei a cachaça e corri pra paróquia, conversar com o homem de Deus. Padre Josep estava no fundo da igreja cuidando de sua horta, chegando terra no pé de suas plantas e ouvindo os cascos de Cravinho batendo no chão duro, estava de joelho, se formou e tirou o grande chapéu de palha da cabeça, passou o braço na testa para enxugar o suor, me abençoou e foi logo dizendo aquele seu jeito calmo que precisava de um favor meu. E ela disse que meia cidade estava procurando ele por tudo quanto era lugar e ninguém sabia onde ele tinha se metido, saiu de manhã para vir pra missa ajudar padre Josep e não tinha aparecido na igreja nem em lugar nenhum e que o padre queria falar comigo quando eu viesse. Pedi uma bala de canela, paguei a cachaça e corri pra paróquia, conversar com o homem de Deus. Padre Josep estava no fundo da igreja cuidando de sua horta, chegando terra no pé de suas plantas e ouvindo os cascos de Cravinho batendo no chão duro, estava de joelho, se formou e tirou o grande chapéu de palha da cabeça, passou o braço na testa para enxugar o suor, me abençoou e foi logo dizendo aquele seu jeito calmo que precisava de um favor meu. saiu de manhã para vir pra missa ajudar padre Josep e não tinha aparecido na igreja nem em lugar nenhum e que o padre queria falar comigo quando eu viesse. Pedi uma bala de canela, paguei a cachaça e corri pra paróquia, conversar com o homem de Deus. Padre Josep estava no fundo da igreja cuidando de sua horta, chegando terra no pé de suas plantas e ouvindo os cascos de Cravinho batendo no chão duro, estava de joelho, se formou e tirou o grande chapéu de palha da cabeça, passou o braço na testa para enxugar o suor, me abençoou e foi logo dizendo aquele seu jeito calmo que precisava de um favor meu. saiu de manhã para vir pra missa ajudar padre Josep e não tinha aparecido na igreja nem em lugar nenhum e que o padre queria falar comigo quando eu viesse. Pedi uma bala de canela, paguei a cachaça e corri pra paróquia, conversar com o homem de Deus. Padre Josep estava no fundo da igreja cuidando de sua horta, chegando terra no pé de suas plantas e ouvindo os cascos de Cravinho batendo no chão duro, estava de joelho, se formou e tirou o grande chapéu de palha da cabeça, passou o braço na testa para enxugar o suor, me abençoou e foi logo dizendo aquele seu jeito calmo que precisava de um favor meu.

  Diga logo seu padre!

  Juvenal, meu filho, aconteceu alguma coisa com Júlio, hoje pela manhã. Sabe de alguma coisa filho?

  Sei!

  Então onde ele está?

  Sei não padre!

  Mas você acabou de dizer que sabia!

  Não seu padre! Eu disse que sabia de alguma coisa!

  Então o que sabe?

  Sei que Julio tá sumido desde manhã, Sara, filha de seu Abílio me contou agorinha a pouco.

  Bem, bem, sei que você conhece toda essa terra, e porventura, não saberia onde começar a          procurar por ele?

  Sei sim senhor! Mas eu estou de serviço, vim trazer umas peças pro dotô Ranço Tuba e vou voltar pra levar o almoço da turma.

  Não meu filho, já lhe disse que não é Ranço Tuba, é Hans Tullbar.

  Mas padre eu não consigo falar desse jeito! E porque ele é dotô se não é medico?

  Bem depois eu lhe explico filho, eu já mandei um recado para o doutor Hans dizendo que você é o homem mais preparado para procurar Júlio e que Venâncio levará o almoço da turma. Tudo bem meu filho.

  Sim senhor! Sua bença padre.

  Deus te abençoe meu filho, e não beije a minha mão, está toda suja de terra!

  Tem problema não padre!

   Já tomou cachaça hoje, não foi filho?

  Só uma seu padre, só uma!

  Vá filho, e veja se encontra Júlio, pelo amor de Deus!

  Tá bom padre, tá bom, sua bença!

  Deus te abençoe Juvenal.

   Saí num galope só e passei no boteco do Abílio pra tirar a poeira da goela e Sara me perguntou se eu já estava indo procurar Júlio, ia perguntar como sabia, mas, desisti estava com muita pressa. Peguei a estrada que ia pras bandas de Morro Alto porque aquele era um caminho natural que Júlio iria usar. O cavalo já estava bastante cansado quando resolvi parar pra ele beber água na beira do rio que dividia as terras do governo das terras do seu Eurico, fazendeiro brabo que ficou rico plantando algodão e soja naquela imensidão a perder de vista. Eu tinha de avistar a marca dos pneus da bicicleta e até ali ele não tinha chegado. Cravinho tinha comido um pouco de capim, bebido bastante água, estava bem descansado quando voltamos pra estrada de novo, continuei prestando atenção no caminho procurando uma pista de Júlio, o sol estava a pino quando avistei as marcas dos pneus da bicicleta, pedi pra Cravinho parar, ele obediente estancou na hora, apeei do baio e deixei ele na sombra duma árvore, olhei pra esquerda, pra direita e nem sinal de Júlio ou de sua bicicleta verde que ele chamava de Catarina. Fiquei intrigado, as marcas chegavam até ali e não ia nem pra frente nem pra trás. Ai lascou, como eu ia explicar pro padre que ele chegou até ali e depois eu não sabia pra onde foram, nem pra trás nem pra frente, nem pra esquerda nem pra direita, complicou! Tinha acontecido alguma coisa ali, mas o quê? Pra onde ele tinha ido? Será que alguém roubou Catarina e sumiu com ele? Puxei meu facão da bainha e olhei em redor da estrada pra ver se tinha mato amassado, marcas de sangue ou coisa assim, mas não tinha e naquelas bandas não existia essas coisa não, ladrão é bicho ruim e eu nunca tinha visto um e nem sabia com o que se parecia! Assustado com aquele sumiço, resolvi entrar na mata abrindo uma picada, andando um pouco, voltando, abrindo outra, voltando e outra e outra e nada! Abri oito picadas e voltei pra perto de Cravinho, me sentei no pé da árvore e fiquei pensando o que fazer e como não me surgiu nenhuma idéia que se aproveitasse resolvi me enfiar mais um pouco em cada uma das picadas, tinha de ter acontecido alguma coisa, ninguém some desse jeito e Júlio era esperto por demais, não ia deixar acontecer alguma coisa esquisita, nem com ele nem com Catarina, ou tinha!? Tinha me enfiado uns trinta metros mata adentro em quatro picadas e não havia nada de anormal, na quinta picada senti um troço esquisito que me deu até medo, foi uma sensação tão estranha que quase desisti, mas pensei no padre e no que eu ia dizer a ele, padre Josep podia me chamar de frouxo de um jeito bem educado como ele conseguia ser, mas frouxo era frouxo de qualquer jeito que se dissesse e eu não tinha construído aquela fama de bom mateiro pra trocar pela de frouxo, nem pensar. Cai dentro da picada com um medo tão grande de até cagar na calça, mas frouxo eu não era. Fui cortando cipós, espinheira brava, urtiga, fedegoso, pajamarioba troncha e avançando, o medo foi ficando pra trás e eu sabia que não podia parar, a sensação esquisita ainda estava muito forte em mim, de repente vi uma clareira redonda do tamanho da praça em frente da igreja, nada estranho nisso, não fosse o fato de não ter nem grama dentro da clareira, olhei bem pra todos os lados e nada de Júlio ou de alguma vida dentro da clareira, não pareceu ter recebido poda, era como se nunca tivesse nascido nada ali. Sabia de casos de assombração, capiroto disfarçado, mula sem cabeça, negrinho de uma perna só que fumava cachimbo, gente que sumia na fumaça, mas buraco na floresta era a primeira vez que eu tinha visto, nem aquele cipó de teima conseguia avançar pra dentro daquele lugar plano como o assoalho do salão paroquial que uma bola não se mexia pra lugar nenhum, olhei, olhei e nada, só o silencio e eu não estava gostando nada daquilo, resolvi ir buscar Cravinho pra ver aquilo e na volta pra estrada percebi que tinha entrado tanto na mata que aquela demora também estava me assustando. Comecei a ficar melhor quando ouvi o canto dos pássaros de novo, já estava enxergando a estrada e fiquei melhor ainda quando pisei nela. A árvore estava lá, Catarina estava lá, o arreio de Cravinho estava lá amarrado do mesmo jeito que deixei, mas ele tinha sumido, aí eu senti que borrei a calça e comecei a chamar por Júlio, Catarina estava ali ele devia tá por perto.

   JÚLIO, JÚLIO, JÚLIO. Gritei forte.

Escutei uma tossida, olhei pra todos os lados e nada. Comecei a ouvir uma risada, eu conhecia aquele riso, era de Júlio, mas onde ele estava, fiquei com medo de perguntar. Juntei minhas forças com cuidado pra sair só a voz.

  JÚLIOOO, CADÊ VOCÊ?

  Aqui!

ONDE?

Em cima de você!

Olhei pra cima e lá estava ele, num galho bem alto da árvore onde deixei Cravinho amarrado.

  Desce já daí rapaz, preciso falar contigo.

Júlio desceu num salto só, aí a caganeira precipitou de vez, e gaguejando perguntei sem certeza se devia ter feito isso.

Tu tá morto?

Olhando bem dentro do meu olho disse que não e me contou a história mais absurda que já ouvi nessa vida. Ele vinha à missa de manhãzinha, quando resolveu parar perto da árvore pra urinar e de repente estava dentro de um grande balão onde uns homenzinhos marrons faziam um monte de perguntas, sem mexer a boca, ele respondia e também não mexia a boca tudo foi muito rápido até que eu cheguei com Cravinho, eles pegaram o cavalo e o deixaram em cima daquele galho e a Catarina embaixo, tentou descer e caiu, mas não se machucou, deu um pulinho e estava no galho de novo e fez isso muitas vezes até eu aparecer. Contei-lhe que toda a cidade estava procurando por ele e que o padre Josep pediu para eu sair procurando e que não voltasse sem noticias dele. Ainda assustado e sem acreditar naquilo tudo propus que saíssemos dali logo que eu precisava tomar um banho no rio, não podia chegar na cidade com aquele cheiro, Júlio riu e saímos rumo ao rio procurando uma versão melhor para o sumiço de Cravinho e quanto ao resto, boca de siri.  

 

Boca Livre - Folia (1981) [Full Album / Album Completo] [HD] e "Juvenal foi concebido nesse período!

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