A chuva caiu sem parar
os muitos milimetros encharcaram os dias
o cheiro de mofo impregnou os ambientes
a terra molhada ameaça vir abaixo
numa avalanche de lama e caos
os ponteiros do relógio já nem se mexem
o telefone intransigente emudeceu
a energia não teve força para se manter
a velha lamparina a querosene emerge das
quinquilharias e da ferrugem, alimenta-se
de um trapo enrolado embebido em óleo
de comida e me dá uma chama bruxuleante
que confunde o que vejo nas paredes vazias,
rachadas e tortas desse meu esconderijo,
eu tenho vontade de chorar
contenho-me apressado, pois não posso
jogar um milímetro sequer, tudo pode descer
ladeira abaixo. E não posso ser soterrado de novo.
Nesse abrigo onde me encontro com outros iguais
reflito as causas do meu isolamento espontâneo
e dou graças aos céus, por divergirem de mim
senão os números da tragédia incluiria os demais seres que amo
neste meu vale desencantado.
Dedicatória: dedicado aos encharcados leitores do saite
Publicado em 07/03/2010 17:27:30 - 25 leituras
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