quarta-feira, 28 de abril de 2010

dias encharcados



A chuva caiu sem parar

os muitos milimetros encharcaram os dias

o cheiro de mofo impregnou os ambientes

a terra molhada ameaça vir abaixo

numa avalanche de lama e caos

os ponteiros do relógio já nem se mexem

o telefone intransigente emudeceu

a energia não teve força para se manter

a velha lamparina a querosene emerge das

quinquilharias e da ferrugem, alimenta-se

de um trapo enrolado embebido em óleo

de comida e me dá uma chama bruxuleante

que confunde o que vejo nas paredes vazias,

rachadas e tortas desse meu esconderijo,

eu tenho vontade de chorar

contenho-me apressado, pois não posso

jogar um milímetro sequer, tudo pode descer

ladeira abaixo. E não posso ser soterrado de novo.



Nesse abrigo onde me encontro com outros iguais

reflito as causas do meu isolamento espontâneo

e dou graças aos céus, por divergirem de mim

senão os números da tragédia incluiria os demais seres que amo

neste meu vale desencantado.

Dedicatória: dedicado aos encharcados leitores do saite

Publicado em 07/03/2010 17:27:30 - 25 leituras


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