quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ainda não leia meu nome

(poesia)

Sou o sereno que molha a grama
alumiada pela lua nova, ou cheia
a bebida que embriaga o noctivago
em devaneios estúpidos, etílicos
não, ainda não leia meu nome
que talvez não se encontre no rodapé
nem em nenhum outro referencial
quem sabe dê nome a alguma rua
ou diria uma lápide fria qualquer
sou a brisa morna das manhãs de verão
a chuva ácida que tempera o solo
a água sem oxigênio que corre no rio
o excremento do animal jovem, adulto
mas, ainda não leia meu nome
pois estou há alguns graus a bombordo
e não mais o escrevo em papel
tampouco assino com garatuja indescritível
sou a idéia que se perde em aforismos
ecléticos que não dizem nada e dai
sou a frase sem acento e sem sentido
o poema sem rima que teima em ser livre
dentro dessa métrica absurda de fim de noite
entretanto, ainda não leia meu nome
porque não me reconheceria mesmo que estivesse
diante de si, com meu chapéu sujo e descorado
meu jeito maltrapilho e deselegante da roça
meu hálito desagradável das manhãs, por tudo
isso devo dizer-lhe que meu nome não tem
nenhuma importância hora dessas.




Dedicatória: dedicado a leitores do saite

Publicado em 16/02/2010 22:58:04 - 103 leituras



4 comentários:

  1. Nossa, até fiquei sem fôlego, como demorei tanto para conhecer isso diante mim nesse momento, nem tenho palavras para dizer, só posso dizer que estou boquiaberta.

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  2. Gosto das pessoas que não se definem! Não porque não sabem o que são, mas por que nenhuma definição pronta caberia pra definir tamanha imensidão. Seus textos são mesmo muito bons. Parabéns.

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  3. Dia desses pensei nesse poema do desatinado Juvenal pensando tratar-se de uma coisa romântica, Ledo engano!!!

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  4. Juvenal em sua etílica inobservância em divagações descontinuadas de uma realidade concebe essa ode ao amor, mas amor ao quê e ou a quem?

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